A arte constantemente abre portas para um caminho
onde o impossível não existe. Trabalhar a arte dá possibilidades de improvisar,
transformar, ir além da superficialidade, entrelaçar os conhecimentos, em suma,
entrar no terreno criativo da condição humana.
Esta manifestação dinâmica confere às artes uma
importância que vai além de disciplina no currículo escolar, pois é produto
íntimo da formação humana. O sujeito percebe a sensibilidade da humanidade
quando tem a arte como algo significativo em sua educação.
Parte integrante da civilização, a arte é presente
quando ainda não se fazia uso da linguagem textual. Nas cavernas, nas
edificações, nos templos, nas pinturas, nas esculturas, haverá sempre de
representar uma linguagem universal, catalogando períodos, culturas e
manifestações.
Referimos-nos, segundo Gombrich
(1988), à arte escrita com letra minúscula:
Não prejudica ninguém chamar a todas essas atividades arte,
desde que conservemos em mente que tal palavra pode significar coisas muito
diferentes, em tempos e lugares diferentes, e que Arte com a maiúscula não
existe. Na verdade, Arte com A maiúscula passou a ser algo de um bicho-papão e
de um fetiche (Gombrich, 1988:04).
Para o autor, Arte, com letra maiúscula,
assusta, assombra, distancia. Faz com que pessoas aparentemente sem dom não se
sintam atraídas para iniciar uma atividade artística. Cria-se o medo da reação
das pessoas, o medo do ridículo, porque se espera atingir um resultado
perfeito, acadêmico, isto é, dentro dos padrões da estética da arte.
A fim de compreender a arte, precisamos nos
aproximar e nos identificar o que significou os rituais primitivos que davam
vazão às manifestações artísticas do homem primata.
Sob este propósito, esta identificação ainda ocorre
no homem pós-moderno através de crenças ou superstições que transcende do que
lhe representa o racional. Se pensarmos, por exemplo, na maneira como tratamos
uma fotografia de um ente querido, não nos imaginaríamos de maneira nenhuma
furando os seus olhos, mesmo que seja somente em um pedaço de papel. Ela tem
todo um valor simbólico seguido de um sentimental. Pelo contrário, guardamos
esta imagem com carinho, como se tivéssemos lidando ali com a própria pessoa. E
isto não está muito distante do que faziam alguns povos primitivos quando
simulavam suas caçadas através de desenhos de bisões nos tetos e paredes das
cavernas há 15.000 anos atrás. Tais manifestações tinham caráter utilitário e
concreto, como encenações das cenas que estavam prestes a acontecer, garantindo
assim uma maior probabilidade de vitória.
A partir deste contexto, Gombrich
sugere que imagem e letras são, realmente, parentes consangüíneos (ibid.:30). Tal proximidade confere às artes e ao papel da
imagem importância significativa à evolução da humanidade.
Quando falamos em arte logo pensamos em belo e em estética. E a
idéia de estética, do que realmente é belo, necessita estar constantemente
sendo revista, pois padrões e conceitos vivem e revivem como ciclos
transformados a cada época.
Segundo Perissé, a
respeito de Rodin, é taxativo sobre a beleza:
Não há, na realidade, nem estilo
belo, nem desenho belo, nem cor bela. Existe apenas uma única beleza, a beleza
da verdade que se revela. Quando uma verdade, uma idéia profunda, ou um
sentimento forte explode numa obra literária ou artística, é óbvio que o
estilo, a cor e o desenho são excelentes. Mas eles só possuem essa qualidade
pelo reflexo da verdade. (Rodin apud Perissé, Ensaio Beleza! in http://www.hottopos.com/
mirand5/beleza.htm).
Segundo o autor, a beleza é um ato de amor que, no
núcleo da realidade, ultrapassa o banalizante e desumanizante. Trata o conceito de belo como algo maior que
transcende os padrões comuns de beleza.
Considerada muitas
vezes como privilégio das elites, a arte não possui o reconhecimento devido
dentro do âmbito escolar e na sociedade. Vale ressaltar que existem escolas que
adotam planejamentos que valorizam a questão da arte, da estética e da
criatividade na formação dos seus alunos, adotando a arte como aliada à
educação. Este número, porém, vem decrescendo com a exclusão das artes na grade
disciplinar.
Em um artigo pertencente a um livro intitulado
discorre sobre a presença do corpo na arte contemporânea. Coloca que este corpo
pertence a um jogo que é ao mesmo tempo, natural e metanatural,
físico e metafísico, biológico e mecânico, cultural e metacultural,
sendo assim definitivo, nunca linear, sempre aleatório, interagindo então
mutuamente.
Todo este jogo do corpo demonstra a presença e
importância das artes cada vez mais no nosso âmbito. A arte não é e não deve
ser vista como domínio de alguns especialistas. Ela interage em todos os
momentos da nossa vida como também tem presença marcante em nossa educação.
Almeida afirma:
O que me espanta é que em nossa
sociedade a arte só tenha relação com os objetos e não com os indivíduos ou com
a vida; e também que a arte seja um domínio especializado, o domínio dos
especialistas que são os artistas. Mas a vida de todo indivíduo não poderia ser
uma obra de arte? Por que um quadro ou uma casa são objetos artísticos, mas não
a nossa vida? (Focault apud Almeida, 1984:331).
Fonte
Maria Gottsfritz
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